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A Equipa Redactorial

sábado, 31 de outubro de 2009

Novo Conselho Económico Paroquial

Está constituído, desde 17 de Setembro de 2009, o novo Conselho Económico Paroquial. Vulgarmente conhecido por Comissão Fabriqueira, com a adopção do novo Código de Direito Canónico, a referida comissão passa a designar-se: Conselho Económico Paroquial. Já em funções desde 16 de Junho, só no mês passado é que foram efectivamente investidos, com a aprovação de sua Excelência Reverendíssima, D. Manuel Clemente, Bispo do Porto. O novo Conselho Económico é constituído por 7 elementos e é presidido pelo Pároco, Rev. Padre Fernando Cardoso Lemos, sendo dividido em 3 pelouros distribuídos da seguinte forma: Área Financeira: Tesoureiro - José Eduardo Sousa e Vogal - Luís António Camelo; Área Administrativa: Secretário – Manuel Couto; Área Patrimonial: Património e Conservação – José Vieira e Acílio Azevedo e Gestão das Capelas – Bento Mário. Com a constituição e entrada em funções do novo Conselho, inicia-se um ciclo na Paróquia de Leça da Palmeira, nomeadamente ao nível da gestão administrativa, estando neste momento a decorrer a formação e respectiva informatização do Cartório Paroquial que muito em breve abrirá ao público em horário a divulgar oportunamente. O Conselho Económico tem a sua sala na antiga residência do Sacristão da Paróquia, onde irá funcionar também o novo Cartório. Para concluir, o mandato deste novo Conselho terminará em Dezembro de 2010, quando se iniciará um novo triénio, e onde se poderá avaliar definitivamente a utilidade deste novo órgão Paroquial.


José Eduardo Sousa in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 7 - Outubro de 2009

“ILUSTRE LECEIRO” - JORGE BENTO – O GUARDIÃO DA MEMÓRIA LECEIRA

Cinco anos passaram sobre a morte deste nosso amigo, por isso, e demonstrando que não o esquecemos dedicamos-lhe a oportunidade que nos deram de falar sobre um ilustre leceiro.
JORGE ARMANDO, filho de Joaquim dos Santos Bento, negociante, e de Clara Oliveira dos Santos Bento, casados catolicamente, nesta freguesia e nela moradores na rua de Moinho de Vento; (antiga Rua de 5 de Outubro) nasceu, nesta freguesia de Leça da Palmeira, a 11 de Setembro de 1915, e foi solenemente baptizado na Igreja Paroquial a 24 de Outubro de 1915, pelo abade José Ferreira dos Santos Mondego.
Os pais completaram-lhe o nome: Jorge Armando Oliveira dos Santos Bento.
Fez a 1.ª e 2.ª classe no “Colégio Modelar”, de D. Maria da Cruz Pires da Rocha, a D. Mariquinhas, à Rua José Falcão n.º 444, actualmente Rua Direita n.º 342, por onde muitas gerações passaram incluindo os meus pais.
Passou depois para a “Escola Pinto de Araújo”, ao Arnado, em que repetindo a 2.ª classe, completou ao fim de 3 anos, sob a direcção do insigne professor Álvaro António Lucas, a 4.ª classe (famosa 4,ª classe!), com 18 valores. Tinha então 10 anos.
Seguidamente, seus pais quiseram que apurasse os seus estudos em português e francês, no colégio de D. Cacilda Moreira Alves onde aprendeu durante 3 anos incompletos.
Aos treze anos empregaram-no, no Porto, onde trabalhou no escritório, da Agência de Navegação e Comércio, até 1973.
Durante uns períodos, poucos, deu aulas de desenho, uma vez por semana, no “Colégio de Santo António”, da D. Cacildinha, à Rua Direita.
Com apenas 16 primaveras, despertou para a sociedade em que estava inserido e fundou, com outros rapazes, em 1931, um grupo teatral a que deram o nome de “Núcleo Artístico José Falcão”, por ter sido criado na rua em que moravam os fundadores. Datam desse tempo os seus primeiros cenários.
Como determinadas situações não lhe agradaram, mudou de rumo, e a partir de 1933 fundou e dirigiu um conjunto coral que veio a denominar-se “Capela de São Miguel”. Durou 33 anos e correu meio Portugal, abrilhantando, com boa polifonia, grandes e pequenas festividades religiosas, dela falando vários periódicos.
Jorge Bento era olhado pelos seus cantores como um pai ou irmão mais velho, pois não sendo fácil concitar em seu favor a simpatia, a confiança e a aquiescência de 25 a 30 homens e rapazes, recolhia a sua confiança e respeito, tanto mais que os cantores não recebiam qualquer gratificação pecuniária.
Em 1933, o avô paterno que ajudara a reorganizar a Confraria dos Passos do Senhor, esteve retido em casa com prolongada e grave enfermidade, manifestando aos netos o desejo de ver desfilar, junto da sua porta, a sua querida Procissão dos Passos que naquele ano não sairia por dificuldades financeiras.
Jorge Bento e António Jorge Bento, eram dois rapazes que tinham o pai para o Brasil, em Manaús e, no intervalo dos estudos, gostavam de auxiliar a mãe nos trabalhos de casa. Os dois irmãos ajudavam à missa e a outras cerimónias, na Igreja Paroquial; e, como tinham excelente memória auditiva, chegados a casa e entregues ao trabalho, repetiam os cânticos ouvidos no templo, encarregando-se cada qual da sua parte quando o trecho era a duas vozes.
A mãe rejubilava com tamanhas qualidades dos filhos!
Foi então que conhecedores do desejo do avô, Jorge Bento e o irmão António, foram pedir a um tio, juiz da dita confraria, naquele ano, para que fizesse sair a procissão, pois eles com os primos e alguns amigos, cantariam o “Miserere” e os cânticos próprios do momento, evitando assim essa despesa.
Resolvidas algumas outras dificuldades naturais, assim se fez. E, no sábado, 1 de Abril de 1933, aquele punhado de rapazes cantava e encantava na Igreja Paroquial, nos exercícios preparatórios para a procissão do dia seguinte.
Justifica-se desta forma a alegria e satisfação com que Jorge Bento dizia que o seu grupo coral nasceu das Chagas de Jesus e das Lágrimas de Maria. Porém, este agrupamento que fora inicialmente de carácter ocasional, pois satisfeito o desejo do avô, deveria normalmente dispersar.
Mas não! Nessa altura aparece o sacerdote P.de Manuel Francisco Grilo que insiste com Jorge Bento para que o grupo continue e, com os seus primos reorganize a “Confraria de S. Miguel” padroeiro da freguesia e que se realize a sua festa que tinha desaparecido havia cerca de um século.
Jorge Bento aceita impondo uma só condição: a de se mandar fazer uma nova imagem de S. Miguel, a que actualmente preside ao respectivo altar e que é da autoria de Guilherme Ferreira Tedim.
Em 1935, colabora com o “Rancho Típico da Amorosa”, e com a supervisão de Armando Leça, conseguiu impor-lhe um certo tradicionalismo, de que se estava afastando, e apresentá-lo em Lisboa, no “1.º Cortejo Folclórico Português”, de 1937. São dessa época os primeiros elementos colhidos entre o povo e que viriam a constituir a parte principal do “Cancioneiro de Leça” – 1985.
Temos aqui que destacar entre as muitas composições musicais o HINO DO LEÇA F.C., o hino do nosso Leça!
Em Maio de 1940, começou a iluminar o “Livro de Honra da Sociedade Humanitária de Matosinhos – Leça, por insistente pedido do prof. Manuel da Silva Araújo, finalizando-o e iniciando um outro.
Em Setembro de 1941 casou com D. Palmira do Sacramento Varzim e Silva, e tiveram quatro filhos: a Cecília, o Miguel, o Manuel e o António, vivendo numa casa na Rua Direita que, como dizia, era a única da rua que tinha uma porta e uma janela, sempre com um aspecto bem conservado.
Também colaborou na organização dos “Cortejos de Oferendas” em favor do Salão Paroquial, em 1945, 1953 e 1960, na zona a que pertencia.Jorge Bento foi uma espécie de assessor do pároco, de uma dedicação enorme à paróquia, onde foi um exímio colaborador nas obras da igreja, nomeadamente das casas dos pobres de Gonçalves e de Ródão, do Salão Paroquial e nas iniciativas pastorais.

Engº Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 7 - Outubro de 2009

G. P. T. L. – 31º ANIVERSÁRIO e XXIII LEÇA 2009 MARCADOS PELA SAUDADE

O 31º aniversário do Grupo Paroquial de Teatro, celebrado como habitualmente no dia 5 de Outubro, foi desta vez marcado pela homenagem póstuma à Mª Emília Soares, actriz e Secretária da Direcção do GPTL, recentemente falecida. Foi lembrada ao longo daquele dia, primeiro na romagem ao seu túmulo, depois através do descerramento de uma lápide na Galeria Padre Lemos, no Salão Paroquial, a “casa” do GPTL e na missa das 19horas, que foi também pela sua alma. Foi um dia um pouco triste para o Grupo, mas diz quem conheceu bem a Milita, que tiveram que celebrar, pois ela não quereria que o dia de aniversário fosse passado de outra forma.
E decorre já desde 3 de Outubro o XXIII Encontro de Teatro Leça 2009, que começou com a apresentação da peça “O Auto da Alma” pela CONTACTO - Companhia de Teatro Água Corrente, de Ovar. Seguiu-se a “6ª Escola de Teatro” do GPTL, no dia 10 de Outubro, onde os actores de todas as idades puderam mostrar tudo o que aprenderam desde Maio, em “Fim do Percurso”; “Era Uma Vez Um Gato”, pelo TEAGUS – Teatro Amador de Gulpilhares (Gaia), no dia 17; “O Albergue”, no dia 24, pela Associação Recreativa Os Plebeus Avintenses (Gaia) e, no próximo dia 31 de Outubro, a Companhia Teatral de Ramalde da Associação 26 de Janeiro (Porto) apresenta “A Gayola”. Dos quatro espectáculos de Novembro, dois serão da responsabilidade do Grupo anfitrião, que apresentará, no dia 7, “Leandro, Rei da Helíria” e no dia 28, no encerramento do Leça 2009, “No Crepúsculo da Vida” da autoria de António Paiva, que também encenou. Nos dias 14 e 21 de Novembro serão apresentadas as peças “Morgado de Fafe em Lisboa”, pela Nova Comédia Bracarense e “A Rua Direita”, pela Sociedade Musical 1º de Agosto (Coimbrões). Também o Leça 2009 homenageia a memória da Mª Emília que, tal como diz António Paiva na apresentação desta festa do Teatro, “continua bem viva, em espírito, em todas as nossas actividades”, em especial no espectáculo de encerramento, no dia 28 de Novembro, em cuja peça a malograda actriz iria participar. Citando o guião do Leça 2009, “Ela, (…), lá onde estiver será o nosso principal espectador”.
Está de parabéns o Grupo Paroquial de Teatro, que continua a mostrar o mesmo empenho e entusiasmo do primeiro dia e já lá vão cerca de 61peças representadas ao longo destes 31 anos de vida do Grupo.

Parabéns!

Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 7 - Outubro de 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

XII FESTARTE

Decorreu de 24 de Julho a 3 de Agosto o XII FESTARTE (Festival Internacional de Artes e Tradição Populares de Matosinhos). Tal como vem sendo hábito em anos anteriores, o FESTARTE teve o seu inicio com o hastear das bandeiras e audição dos hinos dos Países no adro da Igreja Matriz de Leça da Palmeira. Este ano, ao contrário de anos anteriores, o hastear das bandeiras realizou-se na manhã do dia 25 de Julho e contou com a participação de todos os Grupos estrangeiros presentes e das mais altas individualidades da Autarquia Matosinhense. No início da cerimónia tomou a palavra o Presidente do FESTARTE, Raul Neves, tendo dirigido uma saudação muito especial de boas vindas a todos os Grupos presentes e salientando a importância cultural do FESTARTE no intercâmbio de culturas. Usou também da palavra o representante da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira e, por fim, o Sr. Presidente da Câmara Municipal, Dr. Guilherme Pinto, que garantiu a disponibilidade total da Autarquia para com o FESTARTE. Domingo foi o dia grande do FESTARTE com a habitual missa solene na Igreja Matriz, participada por todos os Grupos Paroquiais e presidida pelo Rev. Padre Fernando Cardoso de Lemos. À tarde teve lugar o desfile etnográfico pela Avenida Dr. Fernando Aroso, seguindo-se a recepção oficial na Junta de Freguesia e o XXII Festival Internacional de Folclore de Leça da Palmeira, que, para a além do Grupos Estrangeiros, contou ainda com a presença do Rancho Típico da Amorosa, Rancho Folclórico do Mundão- Viseu, Rancho Folclórico “Os Camponeses de Santana do Mato”, Rancho Folclórico da Corredoura – Guimarães, Rancho Folclórico da Vila de Pereira – Montemor-o-Velho, Rancho Típico de São Mamede Infesta e o Grupo Folclórico das Lavradeiras da Meadela – Viana do Castelo. À noite, teve lugar o já tradicional Baile Folk de Abertura, na Escola EB 2,3 de Leça da Palmeira. Na segunda feira, o FESTARTE esteve em Matosinhos onde houve lugar à animação de rua, seguindo-se a recepção oficial na Câmara Municipal. Na tarde desse dia os Grupos tiverem oportunidade de actuar em instituições de carácter social, nomeadamente a ALADI (Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído Mental) e Lar da Bataria. Terça-feira foi dia de folga, tendo o FESTARTE continuado no dia seguinte, com a Gala da 3ª Idade no Auditório Mário Rodrigues Pereira em Lavra, tendo a noite sido preenchida com os recitais de música tradicional nas Igrejas de Leça da Palmeira, Santa Cruz do Bispo e São Mamede
Infesta. Na quinta-feira teve inicio o Festival de Gastronomia, em que as famílias que no ano passado receberam os Grupos em sua casa
puderam, desta vez, saborear as iguarias que os Grupos deste ano nos trouxeram, num jantar que teve lugar na Feira de Artesanato. O FESTARTE não poderia terminar sem o habitual encontro de Etnografia e Folclore coordenado pelo Dr. João Pimenta, do Gabinete de Estudos de Etnografia e Folclore do Rancho Típico da Amorosa, que este ano teve lugar na sede do RTA. A finalizar houve ainda lugar para mais dois festivais de folclore: no sábado à noite, em São Mamede, o XX Festival Internacional de Folclore e, no domingo, em Matosinhos, o Festival Internacional de Folclore e o encerramento do
FESTARTE.


OS Grupos Participantes
Ballet Folklorico de Occidente
Guadalaraja – México
Este Grupo chegou-nos do estado de Jalisco, cidade de Guadalaraja, sendo uma das maiores deste País da América Latina, com uma população a rondar um milhão e setecentos mil habitantes, sendo que a sua área metropolitana ronda os quatro milhões de habitantes, é a segunda maior do País em número de habitantes. Trouxeram ao FESTARTE a indústria do seu artesanato, a sua gastronomia, recomendada para quem goste de sabores picantes.







Croatian Folklore Ensemble “Ostrc”
Samobor – Croácia
Fundado em 14 de Janeiro de 1979, na pequena cidade de Samobor, que dista cerca de 25 Km da capital Zagreb. Este Grupo recriou artisticamente os diferentes temas da tradição popular, exprimiu a sensibilidade e as emoções contidas neste legado secular, que constitui a sua identidade com povo. Pela segunda vez no FESTARTE trouxeram também a gastronomia tradicional da Croácia, o Artesanato e os virtuosismo das suas interpretações musicais.







Apple Chill Cloggers
Carrboro – Estados Unidos da América

Este grupo tem como data da sua formação o ano de 1975 sendo seu patrono a Universidade da Carolina do Norte, estado de onde são originados. O grupo está federado no Orange County Arts, organização que tem por finalidade promover o desenvolvimento artístico desta pequena cidade da Carolina do Norte. O Apple Chill Cloggers levam as suas danças aos vários locais da região com particular destaque para as escolas básicas e superiores com a finalidade de expandir a arte que executam. Pela primeira vez presente no FESTARTE os Estados Unidos a América trouxeram da cidade de Carrboro o seu artesanato e uma gastronomia que nos surpreendeu.




Folk Ensemble Kladets
Moscovo – Rússia
Criado em 1985 por alunos dum colégio da região de Moscovo, o grupo ofereceu um programa variado, com as suas danças enérgicas e acrobáticas, misturados com alguns gestos de ternura perfeitamente sincronizados em danças de amos e muita alegria em danças de arte circense. O “Kladez” é participante da época de programas especiais da Sociedade Filarmónica de Moscovo Estado, Moscovo Tchaikovsky Concert Hall, etc. O Grupo participa regularmente em programas televisivos e é vencedor de vários prémios regionais. O seu artesanato esteve bem representado com particular destaque para as “matrioscas” bem como os paladares sempre misteriosos da cozinha tradicional Russa.



Songkhla Rajabhat University
Folk Dance Troupe – Tailândia
Este grupo chegou-nos do Sudoeste da Ásia e foi fundado em 1955 com a preocupação de manter o Thai Folkdance da região sul da Tailândia. O Grupo tem realizado algumas experiências nacionais e internacionais e possui instrumentos como o The Ranad, Pi-Nai, Pi-java, Pi-Mon, Klui Piang e Pomg Lang com sonoridade muito particulares. Trouxeram a sua gastronomia famosa pela mistura de sabores entre o doce, o apimentado, o amargo e o salgado. Particular destaque teve o seu artesanato.


A Feira de Artesanato
Se em anos anteriores sempre fiz tema do “meu lamento”, as condições da Feira de Artesanato com os seus stands quase artesanais produzidos à custa do trabalho árduo dos responsáveis pela Feira, este ano terei que dizer exactamente o contrário. Não sendo o supra sumo dos stands, foram sem dúvida a melhor solução encontrada. Também não se pede mais do que isto. Stands com luz, fechados e seguros foram o ponto mais positivo da edição deste ano do FESTARTE. Sabemos bem o esforço que foi feito para que tal fosse possível, mas de facto, valeu a pena. Saliente-se ainda a presença de um guarda nocturno durante os dias em que decorreu a Feira que para além da novidade de ter novos stands teve ainda a duração de mais um dia o que diga-se em abono da verdade se justificou plenamente, pois não fazia sentindo terminar a Feira de Artesanato a uma sexta-feira. Portanto, este ano a Feira de Artesanato esteve patente durante 8 dias, sempre com muito público, e, para além dos Grupos estrangeiros presentes, contou com artesãos nacionais com presenças em anteriores FESTARTE, assim como a “Tasquinha lá de Cima” que tal como em anos anteriores proporcionou deliciosos petiscos aos visitantes. Façamos votos de que para a ano se possa proporcionar as mesmas condições a quem expõe e a quem nos visita.

O Meu Lamento
Tal como diz o povo: “Não há bela sem senão”, o meu lamento deste ano vai para o reduzido número de Grupos estrangeiros presentes. Mas aqui há que ter em conta dois pontos fundamentais: o primeiro tem a ver com o facto de que este reduzido número de participantes não é da responsabilidade da organização do FESTARTE que tentou por todos os meios que pelo menos mais dois marcassem presença. Inclusive chegou a ser hasteada a bandeira da Moldávia. No entanto, problemas burocráticos nos países de origem e a tão afamada Gripe A impediram alguns grupos de estarem presentes na edição deste ano do FESTARTE. O segundo facto, este positivo, e para que não fique no ar de que aqueles que faltaram é que eram os bons, saliente-se a enorme qualidade dos Grupos presentes em especial o Grupo da Croácia, já pela segunda vez no FESTARTE e o estreante Estados Unidos que proporcionaram momentos que com certeza ficaram na memória de todos que com eles conviveram.

Nota Final
Não foi o melhor FESTARTE de sempre. Disso não restam dúvidas, mas foi o FESTARTE possível que com muito esforço e dedicação acaba sempre por ser o maior acontecimento cultural do Verão Leceiro. Esperemos que para o ano seja melhor, mesmo porque já nos habituamos a um rigor e qualidade aos quais o FESTARTE já não pode fugir.

José Eduardo Sousa in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 6 - Agosto/Setembro de 2009

ILUSTRES LECEIROS - ALBANO SOARES CHAVES

ALBANO SOARES CHAVES, professor primário em Leça da Palmeira, foi o ilustre leceiro apresentado no respectivo ciclo de conferências promovida pela Junta de Freguesia e cuja apresentação esteve a cargo de seu filho Dr. Albano Chaves.
O professor Albano Chaves nasceu a 9 de Dezembro de 1901, em Tabuaço. Após a instrução primária feita na escola local, diplomou-se na Escola Normal de Vila Real em 1919, tendo sido colocado neste mesmo ano em Paradela – Tabuaço, onde permaneceu até 1930.
Neste ano após concurso para nova colocação, ficou em primeiro lugar em três localidades, tendo optado por Leça da Palmeira, para bem dos Leceiros!
Aqui, em Leça da Palmeira, foi colocado na Escola Primária Masculina, que funcionava junto à antiga Ponte de Pedra, no inicio da Rua de Óscar da Silva. Passou pela escola primária da Amorosa e fixou-se na Escola da Praia, de onde se aposentou em 1963, com quarenta e dois anos de bons serviços.
Desempenhou o cargo de Delegado Escolar de Matosinhos durante dez anos, tendo sido exonerado a seu pedido. Sabemos agora que por motivos de saúde.
Foi louvado por várias entidades como o Ministério da Educação, a Direcção Geral do Ensino Primário, a Câmara Municipal de Matosinhos e a Junta de Freguesia de Matosinhos.
Foi agraciado com a “Ordem da Instrução Pública”, no grau de cavaleiro pelo Presidente da República, Marechal Craveiro Lopes.
Na sua acção como professor foi muito mais além do que a missão lhe exigia; isto é, de ensinar a ler, a escrever e a contar, despertando nos seus alunos, homens de amanhã, os sentimentos de generosidade, honestidade, lealdade e de trabalhadores, para que com satisfação pudessem enfrentar a vida.
Inovou o conceito de escola implementando as cantinas e as caixas escolares, com reflexo nos inúmeros benefícios proporcionados aos alunos mais humildes.
Foi nomeado “Cidadão de Mérito” de Leça da Palmeira e “Cidadão de Honra” de Matosinhos e homenageado pelo “Lions Clube de Leça da Palmeira” por tantos e tão elevados benfeitores concedidos a Leça da Palmeira no foro Cultural e Social.
Nos seus tempos livres dedicou-se oficialmente à elaboração de preciosos livros didácticos para as diferentes disciplinas e anos escolares, pelos quais várias gerações aprenderam e que alguns guardam com boas recordações.
Assim se reconhece o valor de um homem, que não sendo natural desta terra aqui se radicou e desinteressadamente elevou da melhor forma que encontrou, a juventude em formação dando origem a homens que garantiram um futuro melhor, deixando-nos ainda aqui a sua própria família, simpática e de uma educação extrema como exemplo para a sociedade em que vivemos.

Eng.º Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 6 - Agosto/Setembro de 2009

GALARDÕES DE MÉRITO DE LEÇA DA PALMEIRA - A "MUSA LECEIRA"

A Junta de Freguesia de Leça da Palmeira levou a efeito uma cerimónia de entrega dos Galardões de Mérito da Freguesia, onde foram distinguidos com:
- Galardão de Mérito Desportivo, a Fernando José de Oliveira Pereira que habita em Leça da Palmeira há vários anos, é atleta paraolímpico de Boccia e praticante de Vela adaptada. Um desportista que nunca desiste, sendo um exemplo de coragem, perseverança e espírito de conquista, ao nível humano e desportivo.
- Galardão de Mérito Cultural, ao Rancho Típico da Amorosa por se tratar de uma colectividade com pergaminhos que honra e eleva o nome de Leça da Palmeira no País e por esse Mundo Fora.
Não esquecermos os nossos primos Henriqueta e Hermano que tanto deram a esta colectividade.
- Galardão de Mérito Cívico, ao Padre Henrique Marcelino, um nosso amigo de há longa data, pois com ele fizemos um dos primeiros cursos da Juventude Rebelde, e que com a sua simplicidade e modéstia é para todos um modelo naquilo que à acção cívica diz respeito. O seu espírito altruísta e empreendedor inspira-nos e faz-nos seus seguidores.
- Medalha de Honra, a título póstumo, a Jorge Bento, o investigador e historiador de Leça da Palmeira, O nosso, dos leceiros, saudoso amigo, de múltiplos talentos mas acima de tudo o cronista das memórias leceiras, que legou às gerações presentes e futuras um património documental absolutamente extraordinário.
Enquadrando todo este espírito artístico Miguel Rocha dos Santos apresentou-nos um conto inédito de sua autoria e que por si só justifica a sua alma artística mas também a de todos aqueles que enaltecem esta nossa terra, e que o levou a dizer:
“Há muitos, muitos anos, quando tudo era simples e a magia permeava o mundo, um maravilhoso nascimento aconteceu.
Numa das raras ocasiões em que todos os astros se alinham no firmamento, o Sol e a Lua uniram-se, e no abraço do eclipse criaram, com o seu Amor, uma linda menina.
Se alguém tentasse descrevê-la, certamente seria incapaz, pois seria preciso ser-se deveras especial para conseguir compreender e por em palavras como é uma linda menina nascida do Amor do Sol e da Lua.
Basta dizer que o comprimento e cor do seu cabelo se alteravam à sua vontade, os olhos e timbre de voz consoante a sua disposição, e o tom da pele dependia de quem a via, e nunca, nunca envelhecia.
Na verdade, durante muito tempo ninguém a viu, excepto o Pai – Sol e a Mãe – Lua, que para tomarem bem conta do seu tesouro, a puseram a morar num castelo de nuvens, alto nos Céus, forte para a proteger, fofo para não se magoar. Que fascínio de castelo aquele! Enorme, todo branco, repleto de móveis de nuvem: cadeiras, mesas, armários, roupeiros, camas, quadros, tapetes, o que conseguirem imaginar. E as cortinas eram tecidas de gotículas de chuva minúsculas que, quando o Pai – Sol espreitava por entre elas a ver como estava a filha, projectava com a sua luz as cores do arco-íris para o interior, tornando o lar ainda mais surreal e sonhador. Aliás, uma das brincadeiras favoritas da menina era esconder-se pelos numerosos recantos da casa, só para o Pai demorar mais a encontra-la, e pintar o castelo multi – color.
Foi assim crescendo nela o gosto pela pintura, e oh! como ela pintava… quadros atrás de quadros, do dia, da noite, do arco-íris, do Pai – Sol e da Mãe – Lua (muitas vezes separados, pouquinhas juntos), das estrelas, dos planetas, das aves que voavam mais alto e cantavam para ela… Só que, pouco a pouco, a menina foi-se cansando de pintar os mesmos temas vezes sem conta. Ansiava por conhecer o mundo lá em baixo, do qual apenas tinha vislumbres, e as histórias que lhe contavam as amigas aves.
Pediu então licença ao Pai e à Mãe que a deixassem ir à Terra, para explorar novos assuntos a pintar, mas eles, receosos, logo lhe negaram o desejo: - “ Sabe-se lá o que poderia acontecer… ” –
A linda menina entristeceu, mas daquela ideia não mais se esqueceu. Movida pela sua curiosidade temerária, teimou e matutou em como empreender a sua jornada, e por fim decidiu. Uma noite, enquanto a Mãe – Lua se ocupava a mudar de fase para Lua Nova, a menina pegou em quantos pincéis e tintas pôde, encheu como uma trouxa a fronha da almofada e fugiu pela janela, escalando a muralha de nuvem. Uma vez descida, pediu a um cisne que passava que a levasse às cavalitas, e ele logo aceitou.
Voaram grande distância, pois a Terra ainda era longe, e mesmo quando cá chegaram, longamente vaguearam, incontáveis vistas encontraram, centenas de culturas conheceram, e muitas pessoas tocaram, até que um dia chegaram a um lugar que só podia ser o seu destino. Um local de tal modo aprazível que a menina não pôde deixar de se apaixonar.
O cisne, depois de certificar-se que a menina ficava segura, quis partir, e a menina deixou, pois não se pode pedir a um cisne que abdique da felicidade de voar. Em sua homenagem, ela pintou mesmo no chão daquela terra a constelação do Cisne, para nunca o esquecer, e para ele saber onde procurar quando a quisesse visitar.
Por longos momentos, a filha do Sol e da Lua maravilhou-se com cada cristal de areia que ali havia, com a calma do rio, que silenciosa chocava com a fúria incontida do mar. Correu praia e penedia atrás das gaivotas e chapinou nas poças como as crianças gostam de fazer.
Na foz do rio brincou com os golfinhos. Mais acima, outra surpresa! Um tapete de relvas, uns fetos, uns carvalhos, uns eucaliptos… Nunca tinha visto nenhuns tão belos. Aqueles tons de verde inimitáveis, o toque áspero da casca, o alcance dos ramos como que querendo abraça-la, a fresca essência que inspira a vida… Aquilo agradou-lhe tanto que resolveu, misturando as suas tintas, usar o próprio ar como tela e pintar ali mesmo mais árvores, criar um pequeno bosque, povoado de animais. Por aí continuou, a pintar novas árvores noutros locais, e rochas e penedos na praia, a cantar e a dançar e a brincar.
Certo dia, começou a sentir-se estranha, algo que desconhecia, saudade. Sentia-se só, e quanto a isso teve de agir. Lembrou-se então de construir um farol na foz do rio, de chama acesa para chamar companhia. Ora, como ela era pequenina, e as pedras muito pesadas, demorou imenso até ter o farol pronto, e mesmo então, este era demasiado diminuto e pouco visível, para ser capaz de atrair muitas pessoas.

Por pouco se deixava vencer, mas acendeu-o à mesma, porque a esperança nunca morre. Esperou e esperou, e por fim lá surgiu alguém. Era um senhor velhinho, que ao chegar ao pé da menina, logo disparou: - “ Quem és tu, linda menina? Que fazes aqui sozinha? Foste tu que acendeste o farol? Para quê? “ –
- “ Calma, “ - disse ela – “ Uma pergunta de cada vez! Eu sou filha do Sol e da Lua, estou aqui para pintar o mundo, e fui eu que construi e acendi o farol, para chamar gente que me ajudasse. Afinal, não posso fazer tudo sozinha! E tu, quem és? “
- “ Bem, eu sou o Arquitecto. Isso e pedreiro. Dá jeito, faço os projectos e trabalho a alvenaria, e digo-te já, sem ofensa, que para vir mais gente, temos de construir um farol maior. “ –
- “Temos? Quer dizer que me ajudas? “ –
- “ Claro que sim! Olhando em meu redor, penso que compreendo a tua visão, e pretendo participar. “ –
Desta conversa nasceu uma grande amizade, da qual se colheram os melhores frutos.
Escolheram um local de rochas fortes, bem visível tanto de terra como de mar, e a menina lá pintou um grande farol, que o Arquitecto projectou e construiu. Com alguma luz reflectida do olhar dela, acenderam-no, para dar a quem quer que visse, a Boa Nova daquele lugar mágico e enternecedor.
Para a menina, inspirado nas histórias que ela lhe contava, o velho ergueu em pedra um castelo igual ao que ela habitara nuvens, e chamou-lhe “ das Neves ”, por estas também serem brancas.
Aos poucos, o povo foi chegando: Sapateiros e costureiras, lavradores e lavadeiras, fidalgos estrangeiros que vinham a ares, escultores, poetas, pintores, músicos e escritores, todos eles sonhadores. E imaginem só, até foi preciso um cronista, para guardar as suas memórias! Para eles, o Arquitecto fez casas baixinhas, ajardinadas, de branco caiadas e portas e janelas verdes.
Entretanto, os viajantes marítimos sofriam dificuldades em aportar, devido à impetuosidade das águas, portanto, os fidalgos opinaram que era de se construir um porto de mar. E foi a partir daí que a situação piorou…
A menina pintou o porto, o velhinho Arquitecto desenhou-o, mas mal começou a obra, deparou-se com três desafios: O primeiro era a sua idade avançada, que já não o deixava trabalhar como dantes; o segundo era a força do mar, que por vezes, tão altas eram as suas ondas, que quase o arrastavam para longe; e o terceiro, pior que os outros, era algo que veio assombra-lo e atormentá-lo enquanto trabalhava.
Vinda das profundezas, gigantesca, terrível, dantesca, uma serpente marinha! Despertara com a algazarra dos navios e das obras e agora acossava os marinheiros e viajantes, e ao Arquitecto mais que aos outros. O cheiro peçonhento que deitava era nauseabundo e empestava o ar. As suas escamas brilhavam temíveis entre o verde e o azul enquanto rasgava as águas na sua senda de destruição. Os gritos lancinantes trespassavam os corações de quem os escutava. Nem barcos, nem gentes, nem o paredão inacabado resistiam a tamanha ira.
Para o velho conseguir terminar o seu trabalho, foi necessária a colaboração de vários artistas. Aprendeu ele, já idoso, a lição de que precisamos todos uns dos outros. Primeiro, veio um compositor, que tocou uma saudosa sonata para aplacar o mar. De seguida os escultores, cedendo a experiência de trabalhar a pedra. Depois os engenheiros, com uma incrível criação: um gigante de ferro, com possantes braços que acarretavam toneladas e toneladas de rocha. A este gigante de ferro a menina deu vida com o seu pincel, e baptizou-o de Titã, para que combatesse as investidas da serpente, que gritava aos quatro ventos que a deixassem dormir.
Encorajado por tamanhas amizades, o Arquitecto conseguiu, enfim, concluir a sua obra, mas pagou o preço último. Caminhou, afastando-se, muito velhinho, com o Por do Sol às costas, deu uns passos e tombou. A menina acorreu-lhe, mas nem ela, nem todos os médicos do lugar lhe puderam valer. E assim, a menina aprendeu uma importante e dolorosa lição: que nada nem ninguém é eterno, e o nosso tempo tem de passar… Ajoelhou-se junto do seu velho amigo, e dali jurou não mais sair…
Ao ver os seus olhos tingidos de lápis-lazúli, rosto escorrido de lágrimas, um poeta apressou-se para junto do farol que o guiara, e ali nos penedos talhou versos solitários.
Sem que ele se apercebesse, a serpente marinha aproximara-se, sorrateira, dele. Assustando-o, silvou: - “ De onde te vem tão profunda mágoa, Nobre poeta, que nem o temor a mim daqui te afasta? “-
E o poeta contou-lhe o sucedido…
Ainda ele não tinha terminado, já a serpente se precipitava terra a dentro, para onde estava a menina com o velho caído. Ao vê-los, a serpente chorou, e com a menina se lamentou. Afinal, agora que pensava nisso, sentia saudades das lutas com o velho, da sua voz a amaldiçoa-la, e do som do seu martelo e cinzel sobre a pedra. Também a serpente aprendeu uma lição: dar valor às amizades enquanto se as tem.
Disse ela então à menina: - “ Se eu prometer tomar bem conta dele, tu prometes continuar a pintar, cantar, dançar e brincar por aqui? “
E a linda menina, num pranto, acedeu.
A serpente marinha velou sobre o corpo do velhinho até ela própria morrer, e onde jaz o seu corpo nasceram frondosas árvores, cujas copas pintadas pela menina fazem lembrar uma serpente marinha a nadar.
O Pai – Sol e a Mãe – Lua, comovidos, resolveram dar aos pintores ainda melhores paisagens para pintar, aos poetas melancolia para escrever, e aos músicos alegria para compor.
A linda menina, essa tornou-se invisível para não se apegar tanto a mais ninguém, e continua a inspirar quem com ela se cruza. Escuta-se a sua alma na Sonata Saudade de Óscar da Silva, a sua memória nos livros do seu Guardião Jorge Bento. Sente-se o seu misticismo no desenho da constelação do cisne, composto por cinco capelas locais (Santo Amaro na cauda, Espírito Santo no corpo, Santana à direita, Santa Catarina à esquerda, e S. Clemente das Penhas à cabeça). Vê-se o lampejo dos seus olhos no Farol da Boa Nova, a sua mágoa ali ao lado, nos versos de António Nobre, cravados no penedo. Respira-se o seu perfume entre o arvoredo das Quintas da Conceição e Santiago, a sua imaginação no Forte de Nossa Senhora das Neves, a sua força de vontade no Castelinho da praia, que já foi um Miramar. Ao restolhar do vento, dança lá na ponta do paredão, ao pé do antigo Titã que ainda nos guarda. Rejubila na praia, o seu riso ecoa nas rochas, enrolado na espuma das ondas. Em qualquer rua, o seu canto sussurrado incendeia-nos o íntimo! O nome da terra escolhida é Leça da Palmeira! O nome da menina, da linda menina, a filha do Sol e da Lua, que veio à Terra de um castelo nas nuvens… Ah! O nome dela, que nos arrebata… É MUSA! A MUSA LECEIRA!
Espalhem a nossa lenda!”
Está de parabéns quem o convidou, Dr. Luís Soares. Está de parabéns quem o lançou nestas andanças, o prof. A. Cunha e Silva. Está de parabéns quem o tem apoiado, o Dr. Albano Chaves; porque todos proporcionaram a um jovem natural de Leça da Palmeira a oportunidade de mostrar o que sabe e faz, contrariando a ideia daqueles que vão buscar gente de fora pagando, e que nada nos acrescentam.

Eng.º Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 6 e 7 - Agosto/Setembro e Outubro de 2009

sexta-feira, 31 de julho de 2009

PROCISSÃO DO CORPO DE DEUS EM LEÇA DA PALMEIRA


















No dia 11 de Junho, de calor intenso, a Procissão do Corpo de Deus percorreu Leça da Palmeira, da Igreja matriz até ao Largo do Castelo, onde decorreu a bênção do mar, trazendo Cristo aos nossos caminhos de todos os dias. Nestes tempos em que diariamente somos confrontados com dificuldades de toda a ordem, só a presença de Cristo em todos os actos do nosso quotidiano, e não apenas como coisa de um momento, pode ajudar cada um a ser mais irmão, mais amigo, mais solidário.
Além dos Acólitos, Pagens, Confrarias e figurantes, a Procissão do Corpo de Deus integrou igualmente as crianças que, este ano, realizaram a sua Profissão de Fé e foi seguida e/ou aprecia da com muita dignidade e respeito por gentes da terra, mas também por muitos forasteiros, como é já habitual com as Procissões de Leça.
Merece destaque mais uma vez, os tapetes de flores na Av. dos Combatentes da Grande Guerra, na Rua do Moinho de Vento e na Rua Oliveira Lessa, uma tradição portuguesa do norte do país todos os anos presente no percurso desta Procissão, obra de alguns moradores, que assim quiseram também contribuir para a solenidade.

Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 5 - Julho de 2009

CASCATAS em LEÇA
















Há cerca de dois anos, dei com uma cascata, (bem bonita, diga-se), naquilo a que chamei ‘sítio mais improvável’, por ser a montra de um cabeleireiro. Porque as cascatas são uma tradição nossa que caiu em desuso, hoje, encontrar uma que não tem a ver com o concurso que o RTA costuma promover, é ainda mais agradável. Pois lá esteve de novo a cascata, na tal montra, mas desta vez ainda mais completa, com a procissão comportando os andores dos três santos populares, e este ano, até teve pálio a cobrir o ‘Sr. Prior’. E o espaço da montra ficou pequeno para as três capelas com o respectivo padroeiro, a procissão mais completa, com a banda de música a acompanhar e outra a tocar no coreto, o fogueteiro e toda a multiplicidade de figurantes da cascata em si.
Desta vez, descobri outra, na mesma rua, na montra de um pequeno café-bar, diria eu, outro ’sítio improvável’, mas que até teve, pela cascata, direito a visita de canal de televisão regional, (como me informou a dona, apareceu no Porto Canal).
Parabéns às duas proprietárias pela iniciativa.

Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 5 - Julho de 2009

9º e 10º anos da Catequese visitam a Casa do Gaiato

No passado dia 6 de Junho, fomos a Paço de Sousa, à Casa do Gaiato. Mesmo atrás do Mosteiro de Paço de Sousa, lá se encontra a “Aldeia dos Gaiatos”
Primeiro visitámos a capela da Instituição, um templo muito simples mas muito convidativo à reflexão. Ali tivemos uma breve explicação de como funciona esta obra cristã, dada pelo padre Manuel António, que se dedica aos Gaiatos há 46 anos, não deixando de referir a falta de padres que queiram abraçar esta Obra com uma doação total, seguindo o exemplo do «Pai Américo», (o seu fundador, sepultado dentro da capelinha), nas muitas Casas do Gaiato em Portugal ou em África, para onde regressaria o Padre Manuel naquela semana. Disse ainda que quando vem de Benguela (África), onde chefia os Gaiatos, vem com os olhos «cheios de crianças», mas quando chega a Portugal «eles ficam vazios», pois lá as Casas estão muito mais cheias de crianças e jovens desprotegidos do que as Casas nacionais. O que move esta Instituição são duas das práticas que Cristo quer que predominem nos corações dos Homens - o Amor ao próximo e a Caridade.
O nosso «guia» foi o Abílio, um dos gaiatos, que nos levou até ao refeitório onde dois gaiatos se encontravam ocupados com os afazeres da cozinha. Lá pudemos ver um quadro muito bonito do «Pai Américo», que ali está como que a «presidir» a tudo. Junto ao refeitório encontra-se a antiga escola dos gaiatos. Seguimos para as oficinas onde se encontrava uma banda a tocar música, e reparamos na quantidade de órgãos que tinham, num piano muito antigo, mas valiosíssimo, na guitarra, no trompete, no grande bombo e nos batuques. Também a música faz parte da vida da Casa. Visitámos depois os quartos e a sala de convívio, a lavandaria e a piscina, já preparada para o Verão. Foi ali que reparámos no vale onde aquela pequena «aldeia» se encontra - um «mundo» de campos agrícolas pertencentes à Instituição.
Seguimos para a casa onde estavam os mais pequeninos, cuidados por jovem senhora, que há dezassete anos se doou totalmente a esta obra. Estavam numa casa provisória, pois a «Casa-Mãe», mesmo ao lado da capela está em obras. A «Casa-Mãe» consiste na casa principal da Obra. Antes do almoço ainda fomos ver a vacaria onde é produzido o leite para consumo da Casa. Vimos ainda a estufa onde são produzidos muitos dos vegetais ali consumidos.
Há ainda um anfiteatro para festas e peças de teatro. Foi ali que partilhámos o almoço que levámos de casa. O que nos sobrou, deixámos para eles.
De tarde, visitámos o mosteiro de Paço de Sousa, mesmo ao lado da Casa do Gaiato, onde regressámos para uma partidinha de futebol com o nosso catequista Júlio e alguns dos nossos colegas. Terminámos a visita com a ida à carpintaria, de onde saiu o notável tecto da capela e a escadaria da «Casa-Mãe». Aí os rapazes que se interessarem podem aprender essa arte com o carpinteiro da Casa. Finalmente fomos à sala dos computadores onde os rapazes exploram o mundo da informática.
Depois fomo-nos divertir para o parque com alguns miúdos muito reguilas de lá.
Foi espectacular este dia lá passado. A experiência de estar com meninos e rapazes, que não souberam o que é o amor de pai e mãe foi bastante significativo para nós. Vimos como estavam felizes ali, mas, lá no fundo dos seus olhos havia um certo vazio também…
A Casa do Gaiato é a mãe e o pai destes jovens: O pai personificado no sacerdote, e a mãe personificada nas senhoras que se doam totalmente para ajudar a criar os gaiatos. Os rapazes só saem de lá quando estiverem preparados para a vida, e se tiverem vocação para os estudos, a Casa dá-lhes a oportunidade de seguirem a vida universitária.
Foi óptimo e trouxemos de lá muito em que pensar: há que amar os nossos pais e respeitá-los, pois há muitos jovens que nunca o puderam fazer. Também trouxemos o exemplo de um amor total ao próximo, por parte do Padre Américo e dos seus sucessores, seguindo o principal mandamento: «Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei». Graças à generosidade de milhares de pessoas e do Banco Alimentar contra a Fome, a Casa do Gaiato tem-se mantido e até chega a ajudar os pobres da paróquia!
Brevemente voltaremos lá para passarmos um fim-de-semana com eles. Queremos levar-lhes algo daqui, de Leça – para isso contamos com a generosidade de todos os Leceiros.
Um bem-haja Padre Américo! Todos devemos estar reconhecidos por essa alma onde não habitou mais ninguém, senão Deus.
O Grupo da catequese do 9º e 10º ano - Catequistas Júlio Correia e Deolinda Correia
Texto redigido por Gustavo Borges in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 5 - Julho de 2009

terça-feira, 30 de junho de 2009

FALECEU A MILITA – ESTÁ DE LUTO O G.P.T.L.

No passado dia 18 de Maio, faleceu Maria Emília Esteves Ferreira Soares, “A Milita”. Foi actriz do G.P.T.L. desde de 2001 até 16 de Maio de 2009, dia em que realizou o último espectáculo, em Gulpilhares.
Dois dias depois deixou-nos.
Foi uma actriz conscienciosa e responsável.
Actualmente, além de actriz, era a Secretária da Direcção do G.P.T.L.. Deixou-nos na flor da idade e com a sua partida, o Teatro em Leça da Palmeira ficou mais pobre e mais triste, pois a Milita era a alegria personificada. Junto dela não havia lugar para tristezas. O seu sorriso era constante, verdadeiro e contagiante. Ela deixou-nos corporalmente, mas continua bem presente no meio de nós, espiritualmente.
É costume dizer-se que só fazem falta os que cá estão. Por isso a Milita faz falta, porque ela é dos que cá estão.
Por tudo isto, peçamos a Deus, que lá, onde Ele a tenha, faça dela a nossa mensageira.
A Milita teve um funeral condigno com a sua condição de mulher com letra grande, com Missa de corpo presente, concelebrada pelo Padre Lemos, nosso Pároco, e pelo Padre Marcelino, Capelão dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos – Leça, corporação onde a Milita trabalhava como funcionária da Secretaria. O corpo foi transportado pela corporação dos Bombeiros e pelos elementos do G.P.T.L..
Um momento tocante, foi quando o corpo desceu à terra com o corpo de Bombeiros a fazerem guarda de honra. Foi de facto um funeral com muita dignidade, tal como a Milita merecia. Teve a presença de muitos amigos, do Corpo de Bombeiros, incluindo o seu Comandante e toda a Direcção da corporação. Estiveram também presentes em grande número, elementos do Grupo Paroquial de Teatro de Leça, alguns dos quais, já não fazem parte do Grupo, mas também quiseram prestar uma última homenagem à Milita.
E termino, como sempre terminamos os nossos espectáculos, com uma salva de palmas, para a Actriz e Dirigente do Grupo Paroquial de Teatro de Leça, “Milita”.
António Paiva in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 4 - Junho de 2009

ILUSTRES LECEIROS - Amélia Carneiro: Histórias do Rio e Mar de Leça

Com esta conferência pretendeu a Junta de Freguesia de Leça da Palmeira homenagear mais uma pessoa que viveu em Leça da Palmeira durante um período da sua vida retratando através das suas pinturas alguns dos belos recantos desta nossa encantadora terra.
Para tal convidou prof. A. Cunha e Silva que esquematizou a respectiva apresentação começando por desafiar o neófito nestas andanças, Miguel Rocha dos Santos, que se saíu muito bem mostrando que há que dar lugar aos novos para que estas iniciativas tenham continuidade com qualidade, e se não atentem neste texto:
“Apresentar o Amigo Prof. Cunha e Silva é tarefa difícil. Outros de maior valia e gabarito já o fizeram, por isso vi-me obrigado a pedir ajuda. Uns dias antes de ser convidado a apresentá-lo, tinha lido um conto do autor americano Howard P. Lovecraft que, a certa altura, me fez pensar nele. Atentem então neste excerto.
“ Não há muitas pessoas que saibam das maravilhas que aguardam para serem reveladas através do recordar das histórias e das visões das suas próprias infâncias. Enquanto crianças nós escutamos, sonhamos e guardamos pensamentos incompletos que, quando mais tarde queremos recordar, já nos achamos prosaicos e (…) sob o efeito (…) da vida. Mas alguns de nós acordamos durante a noite com estranhas aparições de colinas e jardins encantados, de fontes cantando ao sol, de penhascos dourados sobre mares murmurantes, de planícies que se estendem até às cidades adormecidas de bronze e pedra e de fantásticas companhias de heróis em neblina, galopando em adornados cavalos brancos ao longo das orlas de densas florestas, e nesse momento apercebemo-nos de que olhávamos através de portões de marfim para aquele mundo de encantamento que era nosso antes de sermos sábios (…)”
Ora, se o Amigo Cunha e Silva me permite a ousadia, eu penso que ele é sábio precisamente porque não deixou de ver através desses portões de marfim e parece até cruzalos de vez em quando, aliando esta espantosa capacidade à sua vasta experiência de vida.
Na verdade, creio que os seus feitos nas mais diversas áreas, como a música, a pintura, a literatura e em geral a cultura da nossa comunidade, são fruto do trabalho não de um Prof. Cunha e Silva, mas pelo menos três (que eu tenha identificado…). Acompanhem-me, por favor, neste devaneio, enquanto aplico esta teoria a momentos específicos de estudo que o Prof. realizou para nos dar a conhecer a pintora naturalista que passou por Leça da Palmeira, Maria Amélia de Magalhães Carneiro:
- Certo dia, Prof. Cunha e Silva físico, a três dimensões, percorreu a Rua Dr. Augusto Cardia Pires, onde morava a minha avó Brízida, para visitar a casa de Amélia Carneiro habitou temporariamente. Acompanhando-o, seguia o Cunha e Silva intelectual, mas na quarta dimensão, o tempo, percorrendo a mesma rua na época em que ainda se chamava Rua Central, em busca de elementos que lhe permitissem descobrir como vivia a pintora. Ambos no mesmo local, a trabalhar para o mesmo objectivo, mas em tempos diferentes;
- Numa outra ocasião, ía o Prof. Cunha e Silva físico de comboio, a ler, enquanto o Cunha e Silva intelectual vogava por entre informações, tentando dar-lhes ordem, procurando a melhor forma de as expor quando, de repente, um Cunha e Silva metafísico, o que está ligado às energias criativas, desperta a atenção dos outros dois para uma curiosa frase que iria ajuda-lo (s) a olhar claramente o seu objectivo, através de um prisma realmente singular. Pasmem-se com a analogia que o nosso Amigo nos irá apresentar, mas que não revelo agora, para não estragar a surpresa!
É destas estritas colaborações que nascem fascinantes comunicações. O Cunha e Silva que temos hoje connosco é a integração destes três num só plano de existência, com a força e a imaginação para nos maravilhar com as suas descobertas.
No entanto, não é essa a sua única força. Hão-de reparar na sua expressão, a alegria e o entusiasmo com que fala dos temas a que se propõe. Também daí parte o encanto de o escutar.
Pode então afirmar-se que ele tem gosto em viajar pelas histórias que conta, mas maior gosto em levar outros de viagem consigo. Com certeza já todos viram um bando de aves voando em formação, na qual uma delas, agindo como navegador, segue um pouco mais à frente. Assim é o Prof. Cunha e Silva, com uma ressalva, uma particularidade sua. É que, quando se apercebe que um dos membros do seu bando tem algo de valor a acrescentar, uma história para contar, uma pintura para partilhar, um caminho novo a percorrer, uma terra desconhecida a desbravar, ele alegremente lhe cede o lugar de navegador. Ele ergue-se, e com ele os inspirados de Leça da Palmeira. E nisto reside a profunda e inequívoca verdade acerca deste nosso Amigo. O intenso desejo de dar a conhecer! Não importa como, desde que se prime pela qualidade.
Em jeito de conclusão, e porque já devem estar ansiosos por o ouvir, regresso ao conto com que iniciei esta intervenção, com uma pequena adaptação:
O Prof. Cunha e Silva “(…) [busca] apenas a beleza da vida. Quando a verdade e a experiência já não [têm] força para revelá-la, ele [procura-a] na fantasia e na ilusão, conseguindo encontrá-la na soleira da sua própria porta, entre as nebulosas memórias dos contos e dos sonhos de infância.”
Escutemo-lo…”
Então escutamos o prof. Cunha e Silva explicando vários trabalhos da autoria da homenageada e outros que considerou relevantes para nos explicar o percurso da pintora.
Maria Amélia de Magalhães Carneiro, nasceu em 2 de Março de 1883, na freguesia de Cedofeita, no Porto. Era filha de José Bernardo Dias Carneiro e de Júlia Caldas Moreira Magalhães Carneiro, era irmã de um dos mais prestigiados Presidentes da Câmara Municipal de Matosinhos, o Comendador José Magalhães Carneiro, e prima de António Carneiro. Iniciou-se na Academia de Belas Artes do Porto, tendo prosseguido estudos com o Mestre Júlio Costa. Em 1940 decidiu vir viver para Leça da Palmeira, para casa de sua irmã Maria Helena, casada com Norberto de Moura e Melo de Zagalo Ilharco, que vivia numa casa da Rua Dr. A. Cardia Pires (antiga Rua Central), contigua àquela em que nascemos. Faleceu na casa de uma outra irmã, situada na Rua de Brito Capelo, em Matosinhos, em 1970, com 77 anos de idade, deixando um precioso e maravilhoso legado.

Eng.º Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 4 - Junho de 2009

domingo, 31 de maio de 2009

S. NUNO DE SANTA MARIA - Mais um Santo Português

“Vivemos em tempo de crise global, que tem origem num vazio de valores morais. O esbanjamento, a corrupção, a busca imparável do bem estar material, o relativismo que facilita o uso de todos os meios para alcançar os próprios benefícios, geraram um quadro de desemprego, de angústia e de pobreza que ameaçam as bases sobre as quais se organiza a sociedade. Neste contexto, o testemunho de vida de D. Nuno constituirá uma força de mudança em favor da justiça e da fraternidade, da promoção de estilos de vida mais sóbrios e solidários e de iniciativas de partilha de bens. Será também apelo a uma cidadania exemplarmente vivida e um forte convite à dignificação da vida política como expressão de melhor humanismo ao serviço do bem comum.
Os Bispos de Portugal propõem, portanto, aos homens e mulheres de hoje o exemplo da vida de Nuno Álvares Pereira, pautada pelos valores evangélicos, orientada pelo maior bem de todos, disponível para lutar pelos superiores interesses da Pátria, solícita por servir os mais desprotegidos e pobres. Assim, seremos parte activa na construção de uma sociedade mais justa e fraterna que todos desejamos.”
Este trecho da Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, a propósito da canonização de Frei Nuno de Santa Maria, às 9h33 de 26 de Abril passado, em Roma, contém a “mensagem” fundamental a reter por todos nós, seus concidadãos, a nível individual e nacional.

Nuno Álvares Pereira, desde sempre conhecido por Santo Condestável, nasceu em Cernache do Bonjardim, Sertã, a 24 de Junho de 1360 e foi um nobre guerreiro que teve um papel fundamental na crise de 1383 a 1385, em que havia a possibilidade da perda da nossa independência para Espanha, já que a única filha do rei D. Fernando era casada com o rei de Espanha. Apoiante do Mestre de Aviz, (filho ilegítimo de D. Pedro I), D. Nuno Álvares Pereira bate o exército espanhol, primeiro na batalha dos Atoleiros, em Abril de 1384, e, após o reconhecimento de D. João como rei de Portugal, pelas Cortes de Coimbra, lidera um pequeno exército de 6 mil homens e derrota 30 mil castelhanos, na batalha de Aljubarrota, que viria a ser decisiva na consolidação da nossa independência nacional.
Foi casado com D. Leonor de Alvim, de quem teve três filhos, entre os quais D. Beatriz que viria a casar com o primeiro Duque de Bragança, (dando origem à Casa de Bragança). Após a morte da mulher entra na Ordem Carmelita, em 1423, com o nome de Frei Nuno de Santa Maria. Morre no Convento do Carmo a 1 de Novembro de 1431, com 71 anos.
Foi beatificado a 23 de Janeiro de 1918, pelo Papa Bento XV, que lhe consagrou o dia 6 de Novembro. O processo de canonização, iniciado em 1940, viria a ser interrompido para apenas em 2004 ser retomado.

Após a cerimónia de canonização, o Papa Bento XVI referiu-se ao novo Santo e a todo o povo português:
“Dirijo a minha saudação grata e deferente à Delegação oficial de Portugal e aos Bispos vindos para a canonização de Frei Nuno de Santa Maria, com todos os seus compatriotas que guardam no coração o testemunho do «Santo Condestável»: deste modo lhe chamavam já os pobres do seu tempo, vendo o sentido de compaixão e o despojamento de quem deu os seus bens aos mais desfavorecidos. Deixou-nos assim uma nobre lição de renúncia e partilha, sem as quais será impossível chegar àquela igualdade fraterna característica duma sociedade moderna, que reconhece e trata a todos como membros da mesma e única família humana. Em particular saúdo os Carmelitas, a quem um dia se prendeu o olhar e o coração deste militar crente, vendo neles o hábito da Santíssima Virgem e no qual depois ele próprio se amortalhou. Ao desejar a abundância dos dons do Céu para todos os peregrinos e devotos de São Nuno, deixo-lhes este apelo: «Considerai o êxito da sua carreira e imitai a sua fé» (Heb 13, 7).”

Marina Sequeira (recolha) in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 3 - Maio de 2009

Leça da Palmeira e o Rio Leça

Leça da Palmeira e o Rio Leça, nas Artes, nas Letras e nas Ciências, é o titulo de uma obra composta por quatro volumes e cujo primeiro teve, só agora, o seu lançamento após várias peripécias. São seus autores Albano Chaves e António Mendes, aquele há muito ligado ao mundo das letras e este ao da pintura.
Para nos referirmos a esta obra nada melhor do que transcrever as palavras do prof. A. Cunha e Silva na respectiva apresentação, e que foram as seguintes:
“Não passou ainda muito tempo que retratei a musa de Leça. Musa que tem na cabeça um esplendor!... No tronco um coração de mel!... A seus pés, passeiam todos os trilhos, alvoreceres e poentes.
Quando parecia que esta ditosa Senhora musa já estava saturada da sua existência, séculos de semeadura de tradição oral e escrita, séculos de inspiração de aguadas sobre papel ou óleo sobre tela; quando o crepúsculo da sua vida apontava para uns olhos cansados de focar a objectiva do antigo caixote fotográfico “Kodak”; ou ainda quando uns dedos trémulos e esguios de tanto exercício ao piano, nos antigos Erard, já se atrapalham entre as teclas brancas e pretas e trocam os sustenidos pelos bemóis, eis que a madame aparece toda espampanante no arquivo emocional leceiro – O Indiciário Onomástico – em bom estado de conservação, disponível para dançar a polka ou dar as cartas do bridge com as amigas, na velha “sala de visitas” de Leça da Palmeira.
Esta ressurreição deve-se ao dom de dois patriarcas do nosso tempo – o pintor António Mendes e o escritor Albano Chaves – que desceram à rua, despiram as casulas e, antes de bater a porta ao rés da rua, colocaram o báculo de pernas p’ró ar, por causa das bruxas. De telemóvel na mão e sapatilhas Reebok calçadas, andaram por aí, pelas travessas e vielas, bateram aos portões, às vidraças das casas de Leça e, onde não havia gente para dar nada, apanhavam uns restitos, uns estilhaços, os destroços que a musa deixou algures esquecidos e ao deus dará! Remexeram papéis bafientos, abriram gavetas e gavetões, consultaram a Internet e mandaram e-mails.
Resultado deste labor: com tanto restolho a musa acordou estremunhada:
- Que andarão a fazer estes dois? E ficou a saber que:
Um, o António Mendes, de pena dourada, a fazer retratos leceiros; o outro, a “retratá-los”. Da cabeça da musa com esplendor, retiraram os poetas, os pecadores; dos pés da musa os pintores, pescadores (de imagens) que, habituados às águas, meteram os seus pés e os pés dos cavaletes nos riachos, nos rios, nas águas salgadas e doces, nas areias molhadas.
Por tudo isto, o livro Leça da Palmeira e o Rio Leça nas Artes, nas Letras e nas Ciências tem cabeça, tronco e membros. É um livro que caminha, que sente emoções, que racionalmente pensa. O escritor vestiu-lhes a roupagem, o pintor deu-lhes um rosto, um olhar, é nos olhos que está o espelho da alma. Estes são os retratos dos retratados.
António Mendes e Albano Chaves acabam de doar aos leceiros as suas terras, as suas águas, as suas praias, as suas ruas, as suas vielas, as suas gentes, as suas memórias, e a musa encoberta pelas águas mil do mês de Abril andará por aí a inspirar leceiros e visitantes, não só os que andam na rua, mas também aqueles criadores infinitistas que flutuam na lua”.
Palavras estas de uma beleza tão sublime a corresponder ao teor do livro.
Ficamos ansiosos à espera dos restantes volumes.

Eng.º Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 3 - Maio de 2009

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Paulo, Homem de Três Culturas

Como estava previsto, teve lugar uma palestra sobre S. Paulo, no âmbito da celebração do grande jubileu que termina no próximo mês de Junho – O Ano Paulino.
Foi orador o Cónego Dr. Arnaldo C. de Pinho, que desenvolveu a sua alocução em torno daquilo que foi o grande lema Paulino – a evangelização pelo testemunho, tendo como ‘imagem’ de fundo um mapa do império Romano, onde se pôde observar o alcance da influência Paulina.
Tal como em muitos outros campos, também aqui se pode estabelecer paralelismos com a nossa história contemporânea – também hoje nos debatemos com questões de identidade, com a necessidade de saber lidar com a diferença, e S. Paulo, nos primeiros séculos, teve que deixar para trás a sua cidadania judaica e abrir-se a uma nova identidade. No século I, também o mundo ocidental passava por uma crise de valores e acabou por ser esse o terreno propício às novas religiões que vinham do oriente, entre elas o Cristianismo – hoje precisa-se de nova evangelização para combater o desânimo dos crentes, e, tal como S. Paulo, enquanto cristãos e católicos, todos temos a responsabilidade de, pelo testemunho, sermos agentes activos desse processo de conversão, que se quer de carácter permanente em todos os momentos da nossa vida.

Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 2 - Abril de 2009