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A Equipa Redactorial

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Leigos para o Desenvolvimento

Quando no passado mês de Março, assisti num dos canais nacionais, a uma reportagem sobre os Leigos para o Desenvolvimento, estaria longe de imaginar as dificuldades e sobretudo o drama que se vive no chamado “Continente Negro”. África é por excelência o continente onde missionários e leigos tentam, num esforço sub-humano, fazer mais do que o próprio governo do país. A reportagem exibida demonstrou o trabalho missionário em Moçambique, na missão de Fonte Boa, onde no dia 6 de Novembro de 2006, após um assalto à referida missão, foram brutalmente assassinados, uma voluntária e um Padre Jesuíta. Tal como a reportagem mencionou, foi uma morte violenta, absurda e arbitrária, originando a suspensão da ajuda que os Leigos para Desenvolvimento aí prestavam. Posto isto, uma interrogação se nos coloca. O que leva alguém a assaltar uma missão, que procura a cada momento, ajudar aqueles que mais precisam? Mesmo sendo uma luta armada pelo poder, nada, absolutamente nada, justifica um tal acto de violência, sobretudo se pensarmos que a missão de Fonte Boa dedica-se ao auxilio de crianças.
Dia 6 de Novembro de 2006, pelas 1.30 da madrugada (hora local) foi assaltada por um grupo armado a Missão de Fonte Boa, em Moçambique. Durante o assalto foram mortos a Idalina, voluntária dos Leigos para o Desenvolvimento e o P. Waldyr dos Santos, jesuíta brasileiro. Ficaram também feridos um jesuíta moçambicano, Ir. José Andrade, de 76 anos e o Fernando Carvalho (ex-Leigo). A Idalina, com 30 anos, encontrava-se desde Outubro de 2005 em Fonte Boa, dando apoio à missão, em projectos da área agrícola, pecuária e construção de lar para órfãos de Sida.
In
www.ecclesia.pt/leigos

Mas afinal quem são os Leigos para o Desenvolvimento? Quantos são e o que fazem? A resposta a esta e outra perguntas que procurarei dar ao longo das minhas parcas palavras.
Quem são?

Os Leigos para o Desenvolvimento são uma Organização não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) de cariz católico que, através dos seus voluntários, actua nos chamados países em vias de desenvolvimento, em especial nos de expressão oficial portuguesa. Os voluntários são cristãos leigos que, por um ou mais anos, põem as suas capacidades pessoais e profissionais ao serviço da promoção humana, em África e Timor Leste. Mobilizam-nos os valores da solidariedade e da justiça social, que os levam a tentar responder às necessidades dos mais carenciados. Inspirados pelo espírito evangélico, procuram contribuir com o seu trabalho e presença para a construção de um mundo cada vez mais justo, fraterno e humano.

O que fazem?

Na área da Educação nas sete Missões onde estão presentes, Madre-Deus, Fonte Boa, Cuamba, Lichinga, Benguela, Uíge e Dili, leccionam disciplinas do ensino básico, secundário, pré-universitário e técnico-profissional, a crianças, jovens e adultos. Formam professores e alfabetizam as comunidades onde actuam. Simultaneamente, criam e apoiam infra-estruturas, tais como escolas, bibliotecas, centros infantis e de apoio escolar. Na vertente da saúde publica, através dos voluntários com formação médica e de enfermagem apoiam programas de subnutrição e de vacinação de crianças, centros de saúde e hospitais. Também formam técnicos de saúde, capazes de auxiliar as comunidades a que pertencem, prolongando os benefícios da sua acção muito para além do seu término. Enquanto cristãos, todos os Leigos realizam também actividades pastorais: catequeses, grupos de jovens, organização de retiros e eventualmente apoio aos secretariados diocesanos locais. Na área da promoção social, através do seu trabalho criam infra-estruturas para a comunidade, tais como creches, tanques e canalizações de água. Promovem a agricultura de subsistência e a abertura de lojas comunitárias. Além disso, apoiam grupos menos favorecidos, através da integração familiar de meninos de rua, da criação de cozinhas sociais para idosos e de programas de promoção da mulher.

O que é preciso para se ser um Leigo para o Desenvolvimento?

Para se ser um Leigo para o Desenvolvimento é necessário reunirem-se várias condições. Disponibilidade para entregar gratuitamente um ou mais anos de vida ao serviços dos que mais precisam; abertura de espírito para compreender, viver e trabalhar com povos diferentes e para viver em comunidade; capacidade de viver em verdadeiro espírito de pobreza cristã. Oferecem a possibilidade de ser útil ao outro, através de projectos de cariz humano; todas as condições materiais para desenvolver um trabalho em prol do desenvolvimento; acompanhamento espiritual e material ao longo de todo o caminho, desde a formação até ao regresso de Missão. De forma mais concreta, o voluntário Leigo deve ser:
cristão;
maior de idade (entre os 21 e os 40 anos);
livre de encargos familiares (se for um casal deve haver a concordância de ambos);
deve ter formação académica ou profissional
deve ter tempo para frequentar a formação ministrada pelos Leigos no ano que antecede a selecção e partida em Missão.

A reportagem exibida, foca todos estes aspectos e leva-nos a perceber o quanto nós somos pequeninos. O quanto nós podemos fazer pelos outros. O drama da pobreza, da subnutrição, da fome, das doenças como a malária ou a Sida, de um povo que nada tem e que procura em cada gesto, em cada olhar enternecido de uma criança, um raio de luz que lhe alegre o coração. É chocante a imagem de uma criança subnutrida, de uma mãe que implora um pouco de comida porque não tem como amamentar o seu filho, mas mais chocante ainda é a impavidez e serenidade com que os países mais ricos do mundo olham indiferentes para tudo isto. Mais do que uma ajuda monetária, o que estes povos precisam é de afecto, de alguém que olhe para eles com os olhos de Deus. Porque a eles o que lhes resta é Deus e os Leigos para o Desenvolvimento.




José Eduardo Sousa

in "A Voz de Leça", Ano LIII - Número 11 - Fevereiro de 2007