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A Equipa Redactorial

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Bruno Reis - Pintor e Arquitecto

A propósito da história da construção do Salão Paroquial, tem toda a oportunidade a resenha biográfica do Arquitecto Bruno Reis .

A “marca” de Bruno Reis, Arquitecto, está por toda a parte, em Leça da Palmeira como em Matosinhos. Embora tenha projectos noutras cidades é aqui que “está” mais presente. Como pintor também, já que as suas obras são quase sempre “retratos” desta sua terra.
Bruno Alves Reis nasceu em Leça da Palmeira, a 19 de Março de 1906, e como curiosidade refira-se que foi baptizado pelo Abade Mondego, Pároco da altura e outra figura proeminente desta terra.
Frequentou o Curso de Pintura na Escola de Belas Artes do Porto, tendo já como objectivo vir a formar-se em arquitectura, para o que também se inscreveu no curso de Arquitectura Civil. Entretanto o seu dom para a pintura ia-se revelando e a sua primeira tela de paisagem surge em 1926.
Um ano depois e porque ao contrário do que hoje acontece, “ir à tropa” era obrigatório, Bruno Reis, com 18 anos, tem que interromper o Curso Especial de Arquitectura, mas nem assim deixa de “praticar” a sua arte, dedicando-se à caricatura dos camaradas do Regimento da 1ª Companhia de Saúde, em Mafra. O “génio” estava lá…
Terminado o Curso de Pintura na Escola de Belas Artes, em 1930, participa em exposições colectivas de alunos daquela Escola no Ateneu Comercial do Porto, embora não haja rasto, hoje, da maioria das suas obras dessa época.
Em 1932 matricula-se no Curso Superior de Arquitectura, voltando a exercitar os seus dotes de caricaturista no Livro de Curso dos Finalistas desse ano. Quatro anos depois inicia a sua carreira de professor com vínculo extraordinário à Escola Industrial e Comercial da Póvoa de Varzim, em regime de comissão de serviço na Escola Industrial Faria Guimarães, onde se manterá durante onze anos. A sua carreira como arquitecto tem início em 1941, defendendo como tese de curso o trabalho “Uma Pousada no Minho”. Nesse mesmo ano pinta o quadro “Sol Verde”, adquirido pelo Museu Soares dos Reis.
Apresenta o seu primeiro projecto de arquitectura em 1942 – um prédio de dois andares na Rua Heróis de África, aqui em Leça, da Cooperativa “Problemas da Habitação”. A 17 de Junho de 1944 obtém o diploma de arquitecto com classificação de 17 valores, (Bom).
Mas nem só de artes viveu Bruno Reis e, em 1946, casa com D. Irene de Oliveira, na igreja de Matosinhos. A primeira filha do casal, Maria Antónia, nasce no ano seguinte.
Em 1948 passa a exercer como professor na Escola Infante D. Henrique, no Porto, onde se mantém até 1951.
Em 1949 surge o seu projecto para a “Casa Angola” – um prédio com cave, rés-do-chão e três andares, na Rua Brito Capelo, Matosinhos.
A sua segunda filha, Maria Irene, nasce no ano a seguir e em 1951 participa no 1º Salão de Pintura de Matosinhos, ano em que apresenta o projecto para o edifício da Mútua dos Armadores da Pesca da Sardinha. Projecta igualmente a entrada da Praia dos Banhos e a estufa do Horto Municipal de Matosinhos.
Ainda em 1951, concebe o Parque Infantil de Basílio Teles, tendo a sua colega de curso Laura Costa pintado dois azulejos decorativos com motivos de crianças, para os suportes do portão da entrada. Nesse ano volta à Escola Faria Guimarães, agora Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, onde permanecerá até 1974.
A competência de Bruno Reis enquanto arquitecto é cada vez mais solicitada e, em 1952, projecta já moradias no Porto e em Ermesinde. Em 1953 realiza o projecto da Capela de Santo Amaro em Matosinhos, de que o Padre Grilo viria a ser o primeiro Pároco e que é benzida e inaugurada pelo então Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes.
Entre 1955 e 1958 executa vários projectos, entre os quais se destaca o da casa do pintor Agostinho Salgado, em Leça da Palmeira.
Daí até 1960, Bruno Reis é mais pintor que arquitecto. É em 1959 que pinta o quadro a óleo “Capela da Boa-Nova”, adquirido pelo Museu Soares dos Reis dois anos depois.
Em 1961, projecta três obras importantes de Leça – a Residência Paroquial, o Salão Paroquial e o edifício da Junta de Freguesia.
Mas não foi só aqui que deixou obra, pois em 1962 projectou o Cine-Teatro de Chaves e dois anos depois, na mesma cidade, o Hotel Trajano. È seu também o projecto da residência do escultor José de Sousa Caldas, no Porto.
Em 1966, usa o seu saber de arquitecto em proveito próprio e constrói a sua casa atelier, na Rua Direita, em Leça da Palmeira, que lhe proporciona extraordinárias vistas sobre o porto de Leixões, cuja construção acompanhou, até 1969, da Doca Nº2 e mais tarde das Docas Nº 3 e Nº 4. São desta altura as paisagens que pintou a partir das vistas que tinha, de sua casa, sobre o porto.
Em 1973 participa na Exposição Colectiva do I Ciclo dos Pintores de Matosinhos – Órfeão de Matosinhos, apresentando treze quadros. Nessa mostra participaram também Augusto Gomes, Irene Vilar, Tito Roboredo e Nélson Dias.
Fica viúvo em 1975 e o seu último projecto de arquitectura surge um ano depois, tinha o artista 67 anos.
Em 1978 participa como pintor na Exposição Colectiva “Matosinhos e os seus Artistas”, organizada pela Câmara Municipal, no Palacete Visconde de Trovões, integrada nas comemorações do 125º aniversário da elevação de Matosinhos e Leça da Palmeira a vila e sede do concelho. Nessa exposição, Bruno Reis apresentou as obras “Lavadeiras”, “Desaterros”, “Casas de Leça Antiga” e “Ponte da Pedra”.
Nesse mesmo ano cessa, a seu pedido, a condição de membro da Direcção Regional da Sociedade Nacional de Arquitectura.
Morre em Leça da Palmeira, em 1984, com 75 anos.

Marina Sequeira
in "A Voz de Leça" - Ano LV - Número 2 - Abril de 2008

NOTA: Ao pensar o título para este texto sobre o arquitecto Bruno Reis, veio-me à memória o da Exposição Comemorativa do centenário do seu nascimento que, em finais de 2006, esteve patente no Auditório da APDL, “Bruno Reis – Pintor Arquitecto”. Inicialmente achei que talvez não devesse usá-lo, até por uma questão de falta de originalidade. Depois, pensei que talvez mudando a ordem para “Arquitecto Pintor” resolvia a questão. Acabei por usar o mesmo título dessa Exposição, com a devida vénia ao seu autor, reconhecendo não ser capaz de ter melhor ideia para descrever o artista.