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A Equipa Redactorial

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Padre Lemos - 30 Anos de Pároco de Leça da Palmeira

O nosso Pároco completa este mês 30 anos ao serviço de Leça da Palmeira. Assumiu a nossa Paróquia em 23 de Dezembro de 1978, passando a director d’ A Voz de Leça por inerência de funções, quando o Jornal comemorou 25 anos de publicação.
Ordenado sacerdote há 55 anos, o Padre Lemos passou já mais de metade desse tempo como nosso pastor, com uma notável disponibilidade para o Senhor e para esta Comunidade. Se em 1978, quando aqui celebrou pela primeira vez, por circunstâncias da época a sua ‘chegada’ passou sem registo, quando celebrou as Bodas de Prata Paroquiais, em Dezembro de 2003,a Paróquia prestou-lhe uma mais que merecida homenagem, por toda a generosidade e entrega com que abraçou esta terra e as suas tradições, num contributo importante para a consolidação da nossa identidade cultural e social.
Hoje, é por sua vontade que não há uma comemoração formal desta data também importante – como diz o Padre Lemos, na sua habitual boa disposição’ é um ’jovem Pároco com 30 anos’. Enquanto sua Comunidade Paroquial gostávamos de o homenagear de maneira mais formal, embora saibamos como não gosta de protagonismos, como se emociona nestas ocasiões, sobretudo depois de um início de ano um em que alguns problemas de saúde o privaram do exercício pleno da sua pastoral. No entanto, não podemos deixar de o saudar nesta data, e sobretudo de lhe agradecer toda a dedicação a este Jornal e a Leça da Palmeira.
Todos quantos privam com o Padre Lemos n’ A Voz de LEÇA, na Catequese, as Confrarias, Coros e demais Grupos Paroquiais testemunham dia-a-dia essa vida de serviço a esta Paróquia, onde chegou há 30 anos e onde tem feito obra - de conservação do património religioso, mas também cuidando do “património humano”, sobretudo do menos favorecido desta nossa Comunidade.
O Padre Lemos nasceu a 13 de Junho de 1928, em Penha Longa (Marco de Canavezes) e aí sentiu o chamamento de Senhor. Frequentou os Seminários de Trancoso, Vilar e da Sé entre 1942 e 1950, foi ordenado sacerdote a 1 de Agosto de 1954. Até aqui chegar, foi professor no Seminário de Vilar, Notário do Tribunal Eclesiástico e Reitor da Igreja dos Clérigos. A par destas actividades, colaborou com o Movimento dos Cursos de Cristandade durante dezassete anos, e foi Assistente dos Cursos de Preparação para o Matrimónio e das Equipas de Casais de Nossa Senhora durante quinze anos.
Enquanto Pároco de Leça, a sua obra poderá não ser tão visível como a do anterior Pároco – mas tão importante como construir de novo é zelar para a conservação do património existente e isso tem sido feito com muita pertinência e eficácia pelo Padre Lemos. A ele se deve a recuperação das várias Capelas, (da Boa Nova, de Santa Catarina, do Corpo Santo, de Sant’Ana e da Senhora da Piedade), do exterior e interior da Igreja Matriz (substituição do telhado, reforço da segurança, restauro dos altares), muita investigação sobre a história de Leça e do seu património religioso, nomeadamente quanto à datação das origens da templo actual, (uma pequena igreja, talvez do tamanho da Capela de Santa Catarina, ou seja mais pequena do que a capela-mor actual), à configuração e dissimetria dos altares laterais, a criação do Museu Paroquial, (que é riquíssimo e só não é visível e visitável por razões de segurança). Foi da sua iniciativa que, há quase dois anos, a Paróquia ficou a conhecer e homenageou a memória do Abade Mondego, que aqui foi Pároco no início do séc. XX e uma figura importante por toda a acção que desenvolveu, enquanto sacerdote, enquanto político e cientista. Foi uma agradável surpresa para a maioria de nós conhecer a vida deste clérigo, de que apenas existe um retrato a óleo na Galeria dos Párocos.
Em Julho de 2004, foi também com o seu patrocínio que se mandou fazer e inaugurou solenemente um busto do falecido Padre Alcino Vieira, que está colocado em frente ao Salão Paroquial.
Da acção evangelizadora do Padre Lemos surgiu o Grupo de Pagens do Santíssimo Sacramento e nasceu a Comunidade de Monte Espinho, que, tendo já construída a sua Capela há alguns anos, trabalha para concretizar a outra ‘parte do ‘projecto’: a construção do seu Centro. Foi por sua iniciativa que foram recuperadas algumas actividades religiosas tradicionais de Leça – foram repostas a Visita Pascal e as Procissões dos Passos, do Senhor Morto, do Corpo de Deus e a mais antiga de todas, a do Padroeiro, S. Miguel Arcânjo. Com o P.e Lemos surgiram também as Procissões de Velas de 12 de Maio e 12 de Outubro, bem como a Procissão do Senhor do Padrão, em Parceria com a Paróquia de Matosinhos. Mas deu também continuidade à obra social que o seu antecessor deixou e se o Padre Alcino ‘construiu’ o Bairro dos Pobres, o Padre Lemos criou o ‘Dia da Caridade’, que acontece no segundo domingo de cada mês, em que os cristãos, após receberem o Pão de Deus na Eucaristia, se dão aos mais desfavorecidos através dos seus donativos. Ainda neste âmbito há a sua responsabilidade na Obra do Padre Grilo, cuja direcção assumiu pouco tempo de pois de se tornar Pároco, bem como a assistência que presta à obra do Apostolado do Mar (Stella Maris), aqui em Leça.
Neste seu caminho de consagração ao Senhor, está sempre presente a memória de sua mãe, que recorda de forma sentida, pelo exemplo de serviço aos outros e pelo testemunho de fé.
Por ocasião das suas Bodas de Ouro Sacerdotais, (que celebrou com D. Armindo Lopes Coelho), escreveu uma oração que intitulou ‘OBRIGADO, SENHOR.’, que é reveladora da sua atitude de serviço aos outros, de doação generosa a esta terra, tão diferente da sua, até pela distância geográfica, se não por tudo o resto, (o tamanho, a população, os estilos de vida, a envolvência – o mar – a proximidade com uma cidade grande…). Com esse ‘Obrigado’ curva-se perante a vontade do Senhor, num humilde agradecimento por tudo o que lhe foi dado durante aqueles 50 anos ao Seu serviço. Hoje, ao fim de 30 anos como nosso pastor e quase 55 de sacerdócio, é essa ainda e sempre a postura do Padre Lemos – de serviço aos outros para o Senhor, gratificado nessa sua missão. Foi certamente assim que sempre se viu servindo-O sem reservas, sempre ‘vendo’ a Sua acção nas mais pequenas coisas como nas mais importante.
O Padre Lemos faz também parte da história d’ A Voz de Leça, e da história pessoal de todos os que hoje fazemos e/ou fizemos este Jornal. Por seu desafio “pegamos” nele, há 23 anos. Pelo Padre Lemos continuamos, mesmo quando foi difícil, mesmo quando continuar não parecia mais possível. O seu exemplo de serviço a esta Comunidade ajudou-nos a seguir em frente e continua a congregar todos quantos, de alguma forma, se empenham na elaboração desta publicação, mês após mês.

Não posso deixar de recordar aqui o extinto Coro MILIUM, que ‘nasceu’ na primeira missa que o Padre Lemos aqui celebrou, às 19 horas de um sábado, dia 23 de Dezembro de 1978, e que desapareceu há cerca de um ano, quando, por razões de saúde do nosso Pároco, teve que haver alteração do calendário das missas do fim-de-semana.
Acabou uns dias após ter completado 29 de vida.
Fará sempre parte da história de todos quantos o integraram e do nosso Pároco também, porque apesar de não ter sido fundado por sua iniciativa, começou na sua primeira missa cá e foi ele que lhe deu o nome.

Ao Padre Lemos só podemos dizer “Muito Obrigado, por tudo” e pedir ao Senhor que o conserve junto de nós, para que o seu testemunho de vida, de pastoral religiosa e social continue a ser fonte de inspiração e de força para esta sua Comunidade Paroquial.

“9 PEÇAS” de ANTÓNIO PAIVA em 30 ANOS do G.P.T.L.

No âmbito das comemorações do 30º aniversário do Grupo Paroquial de Teatro, o encenador António Paiva, lançou, a 8 de Novembro, uma colectânea das nove peças de teatro que escreveu para o G.P.T.L., nos últimos 10 anos.
O lançamento decorreu no Salão Paroquial, no mesmo palco que é o seu ‘chão’ – ali se passa tudo: ali se ensaia semana após semana, ali se constroem cenários, ali se sente o ‘nervoso miudinho’ em dia de estreia, ali se ‘solta’ a arte em cada representação, ali o G.P.T.L. recebe os seus ‘convidados’, que, desde 1986, cá têm vindo aos “Encontros” de Teatro.
Na plateia da Salão, nessa tarde particularmente fria, estiveram os actuais componentes do Grupo Paroquial de Teatro, mas também quase todos os outros actores e actrizes que por ele passaram e que não quiseram deixar de dizer ‘presente’ num momento importante para o Paiva e para o Grupo. Assim, foi rodeado de amigos, numa cerimónia simples e informal que António Paiva concretizou o sonho de ver o seu trabalho publicado.
António Chilro abriu a sessão saudando os presentes, em especial os antigos membros do G.P.T.L., e felicitando o encenador pela sua dedicação ao Grupo e ao Teatro.
Luísa Paiva, presidente do G.P.T.L., recordou a fundação do Grupo de uma perspectiva mais pessoal e familiar, como é natural, e agradeceu o empenho de todos para que a publicação da colectânea fosse possível.
Seguiu-se a homenagem sentida de um outro homem de Teatro – Alfredo Correia, actor e encenador, ele próprio director artístico do AMASPORTO – festival de Teatro de Ramalde, que atribuiu ao António Paiva, em 1999, o “Prémio Talma”. Este prémio destina-se a reconhecer homens e mulheres do Teatro Amador que de alguma forma contribuíram para o prestígio do Teatro associativo e para o desenvolvimento local em que se inserem. Dirigindo-se aos “amigos do Teatro e aos companheiros de outros palcos”, Alfredo Correia, que escreveu o prefácio da colectânea “9 Peças”, fez o elogio do seu ‘companheiro’ de arte e do G.P.T.L. pelo contributo para “o enriquecimento da Dramaturgia Portuguesa, em particular os Amadores, o Teatro Associativo” e pelo “exemplo a seguir, pelo que dignifica o bom nome do Teatro de Amadores. O António Paiva é merecedor deste reconhecimento, o que me leva até 1999, quando o AMASPORTO lhe atribuiu o “Prémio Talma” e me faz sentir ainda mais orgulhoso por me ter escolhido para escrever o prefácio. Foi com prazer que o fiz e sinto-me honrado com isso. António Paiva, com esta maneira particular de escrever para o seu Grupo representar, tem uma atitude generosa que traduz bem a paixão que nutre pelo seu Grupo de Teatro, como se de uma família se tratasse. Trabalha de forma incansável, ‘esgravatando’ aqui e ali, coisas e causas, temas e ideias, para levar para ‘casa’ e, assim, poder ‘sustentar’ melhor a sua família teatral, que há 30 anos criou e dirige, na certeza de que os seus companheiros de palco e equipa técnica vão gostar desse ‘pão cultural’ e o vão consumir artisticamente. É com esta forma de estar no Teatro que o António Paiva é um contributo cultural precioso, tanto para a sua família teatral como para quantos se consideram ‘Amantes de Talma*”. (…) “Também estou certo que os mais pequenos – crianças, adolescentes e jovens que pela sua mão têm aprendido a caminhar nas tábuas do palco, vão, um dia, quando mais crescidos, já com os seus cursos superiores concluídos, poder dizer que valeu a pena estar no Teatro de Leça, porque aprenderam a estudar melhor e a crescer como gente.” Depois citou partes de um manifesto, por si redigido em 1997, que consta dos programas do AMASPORTO, para vincar o papel importante que o Teatro Amador pode ter na formação de cidadãos: “…o Teatro de Amadores das Associações tem de facto um ‘papel principal’ no desenvolvimento cultural dos locais e regiões onde está inserido. (…) “… tal como no Ensino Básico, o Teatro Associativo é uma ‘escola’ necessária no desenvolvimento social…” (…) “A criatividade, o espírito de sacrifício, a solidariedade, quando aliados a uma saudável aprendizagem associativa, são verdadeiramente bases socioculturais importantes que o Teatro coloca à disposição da sociedade, substituindo, em grande medida, o ‘papel principal’ dos governantes.” Terminou apelando ao “quanto é importante saber o que é a responsabilidade de ser AMADOR DE TEATRO, porque o Teatro de Amadores das Associações – o TEATRO ASSOCIATIVO – é de facto, e sem demagogias, uma grande ‘escola de humanização’ para a vida social, cultural e associativa. O António Paiva é um importante prestador de serviço do Teatro Associativo, que devemos preservar e conservar. É um privilégio tê-lo no seio da Família Teatral Associativa. Obrigado António Paiva.”
Muito aplaudido, António Paiva agradeceu a presença de todos, actuais e antigos membros do G.P.T.L. Passou, então, a explicar o que o levou a tornar-se autor. Como é costume dizer-se ‘a necessidade aguça o engenho’ e foi o que aconteceu naquele caso. Há cerca de 10 anos, quando no G.P.T.L. havia mais actrizes que actores, perante a dificuldade em arranjar peças com predominância de papéis femininos, já que em tudo o que havia, a maioria esmagadora eram papéis masculinos, pôs a si próprio o desafio de escrever para a ‘sua gente’. Não foi fácil, mas os muitos anos de Teatro, a ‘mexer’ com as peças dos ‘outros’, deram-lhe algum traquejo e já vão nove. Referiu também os apoios de algumas firmas, enfatizando a importância do apoio prestado pela Junta de Freguesia, ali representada por Luís Soares, sem o qual nada teria sido possível. Do representante da Autarquia de Leça vieram palavras de elogio pelo trabalho em prol do Teatro e da elevação do nome de Leça da Palmeira.
Seguiu-se um ‘porto de honra’ no átrio do Salão, durante o qual todos os antigos membros do G.
P.T.L. e os convidados receberam um exemplar do “9 Peças”.
Conversando em particular com António Paiva, já depois do lançamento da colectânea, recordou para A Voz de Leça a génese do Grupo, em 1978, exactamente no dia 5 de Outubro desse ano, no encerramento de um encontro de antigos membros da JOC, (Juventude Operária Católica). Inicialmente Grupo de Acção Paroquial, (G.A.P.), o Teatro era apenas uma actividade do Grupo, já que dele nasceu igualmente a chamada ‘Escola de Leitores da Liturgia’ e o que viria a ser o ‘Centro de Dia da Terceira Idade’, hoje a funcionar em instalações próprias. Como o Teatro estava na vida do Paiva desde a sua primeira juventude as outras vertentes do G.A.P. tinham ganho autonomia, começava ali um percurso, hoje com 30 anos, impulsionado também pelo apoio do Capitão Abreu e Sousa.
Uma das dificuldades iniciais foi, precisamente a falta de actrizes, pois naquela época as jovens ficavam mais por casa e estava fora de questão sair à noite – e os ensaios eram, como hoje, à noite. Daí que, mesmo os pouco abundantes papéis femininos não eram fáceis de atribuir e “…quando havia papéis de raparigas jovens, eram as actrizes, às vezes com mais de trinta anos, que os tinham que fazer.” Com o passar do tempo, os costumes foram-se alterando, a mulher passou a sair mais, logo a participar mais em actividades culturais e o défice passou a ser de homens / actores, que é o que ainda acontece hoje em dia. Daí a necessidade que sentiu, de, em 1998, escrever para Teatro, usando a sua experiência de muitos anos. “Aos 19 anos já fazia Teatro, primeiro na JOC, depois num grupo que havia em Gonçalves e mais tarde no Rancho Infantil de Matosinhos. Era para ir para o Aurora da Liberdade, mas aí entrou a velha rivalidade entre Leça e Matosinhos e acharam que não precisavam de gente de Leça. (…) Escrever para Teatro não foi fácil. Eu às vezes criticava os autores, achava que ‘ganhavam à linha’; as peças eram muito longas, até repetitivas. Enquanto encenador fiz e faço cortes, muitas vezes. Esse ‘mexer’ com textos de outros deu-me alguma experiência.”
A primeira peça que escreveu, “O Retrato”, que envolvia 14 actores e actrizes, sendo uma comédia como todas as outras de que é autor, foi a de que mais gostou. “As outras são, se calhar, mais engraçadas, mas aquela tem o chamado ‘humor britânico’, de piada indirecta.”
A inspiração para a escrita pode ser de vária ordem, por exemplo, “A Ressurreição de Alguns” surgiu após a leitura de um artigo sobre a sempre polémica ‘doação de órgãos’.
Ser o próprio encenador do Grupo a escrever a peça tem vantagens, “…porque escrevo para quem tenho. Se eu sei que no próximo ano alguém não vai poder estar, por variadíssimas razões, já sei com quem conto e evito a questão de ter que andar à procura de peça ou de ter que fazer muitas adaptações. Posso, inclusivamente, adaptar o papel às características físicas de quem o vai fazer.”
Quando se referiu à primeira peça que escreveu, António Paiva afirmou “A partir daí, ganhei gosto.”
Do entusiasmo com que fala da sua vida ‘no palco’, porque é ao Teatro que dedica todo o seu tempo, percebe-se o que quer dizer com aquela frase simples.
O Paiva vai, certamente, continuar a escrever para o ‘seu’ Grupo e vai continuar a sonhar.

Parabéns pela dedicação e talento.
Parabéns ao G.P.T.L.

Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 9 - Dezembro de 2008
* François Joseph Talma – actor amador francês nascido no século XVIII, que s estreou na Comédie-Française aos 24 anos. Foi pioneiro do realismo nos cenário e trajes, o que foi uma novidade no Teatro do século XVIII. Amigo de Napoleão Bonaparte e de outros revolucionários, Talma acabaria por ter um papel importante na reforma do Teatro francês.

Engº Pinto de Oliveira - O Presidente

Foi o tema de abertura das conferências sob o tema “Ilustres Leceiros” promovidas pela Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, que levámos a efeito no último dia 8 de Novembro.
FERNANDO PINTO DE OLIVEIRA, era filho de Alfredo Pinto de Oliveira e de D. Cacilda Leite Ferraz Vieira de Oliveira, nascido em Leça da Palmeira, a 15 de Setembro de 1911, numa casa da Rua Direita, hoje, com o n.º 66.
Pertenceu a uma família que sempre serviu a terra, pois era bisneto de Maria Francisca dos Santos Pinto de Araújo, benemérita leceira responsável por um dos restauros da nossa Igreja, onde existe uma placa assinalando tal facto. Era sobrinho-bisneto de João Pinto de Araújo que para além de um restauro da igreja também mandou construir o miramar na antiga barra do Leça e que hoje se encontra na nossa praia, devido às obras de construção do Porto de Leixões.
São indissociáveis do Eng.º Fernando Pinto de Oliveira seus irmãos, D. Maria Lina Cameira e o General Alfredo Pinto de Oliveira.
Foi baptizado na Igreja Matriz de Leça da Palmeira pelo Abade José dos Santos Mondego.
Fez a instrução primária no “Colégio Modelar” da D. Marquinhas Pires, na Rua Direita, onde completou com distinção a 4.ª classe (2.º grau).
Fez o ensino secundário no Liceu Rodrigues de Freitas, antigo D. Manuel II, na cidade do Porto.
Posteriormente frequentou o Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, onde em 1938 se licenciou como Engenheiro Agrónomo, tendo apresentado como dissertação final do curso um pormenorizado trabalho efectuado nos Laboratórios do Instituto dos Vinhos do Porto, intitulado “Subsídios Para o Estudo das Substâncias Azotadas, nos Vinhos do Porto” e publicado nos Anais deste instituto em 1942.
Também prestou serviço militar e de 1943 a 1950 desempenhou diversas funções públicas relacionadas com o seu curso.
Em 1950, entrou para a Câmara Municipal de Matosinhos para vereador do então Presidente Dr. Fernando Aroso, tendo ocupado a presidência da Comissão Municipal de Turismo, onde exerceu uma acção relevante, criando o Posto de Turismo, no Mercado de Matosinhos, onde além de outras actividades se realizaram exposições de arte permanentes.
Ocupou também o cargo de vice-presidente, tendo sido leal adjunto de Fernando Aroso, o que fez com que após a morte deste, muito naturalmente fosse nomeado, por escolha governamental, para o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos.
Se ao Dr. Fernando da Hora Aroso podemos atribuir a pavimentação a cubos de granito das principais estradas do concelho, ao Eng.º Fernando Pinto de Oliveira devemos atribuir uma série de melhoramentos na vertente turística, estando ainda hoje a sua obra como edil à vista dos olhos de todos, sendo algumas delas visitadas por estrangeiros e nacionais que aqui se deslocam para as admirar.
Estamos a falar, nomeadamente, da Casa de Chá da Boa Nova, da Piscina de “Marés”. Devendo-se-lhe também a aquisição das Quintas da Conceição de Santiago, e Parque de Campismo de Angeiras.
Contudo o grande sonho do Eng.º Pinto de Oliveira era o de tornar os terrenos a Norte do Farol da Boa Nova uma zona de lazer, eventualmente num campo de “golf” municipal; por isso logo que soube que o governo de então aí ia instalar uma empresa petrolífera, a então Sacor, partiu para Lisboa numa derradeira tentativa de evitar a destruição do planalto da Boa Nova. Não conseguiu demover a inabalável decisão do governo! Recusou-se a aceitar a vinda desse empreendimento; porém, o absurdo concretizou-se pela força dos seus promotores e, o que era o maior pulmão da cidade de Matosinhos, veio a transformar-se na sede do maior dos seus poluidores.
Perante a insistência governamental, aceitou a SACOR, mas recusou-se a assistir à sua inauguração, o que talvez lhe tenha valido a não renovação do mandato, deixando assim a Câmara em 1970, após doze anos de brilhante serviço à sua terra com total dedicação.
Faleceu no dia 1 de Março de 1975, com 63 anos de idade e assim se encerrou um projecto, um percurso que iria dar a Matosinhos um aspecto bem diferente, pois sabe-se hoje que o turismo é a indústria do século XXI, o que nos leva a afirmar com toda a convicção que com a política que desenvolveu, o Eng.º Fernando Pinto de Oliveira estava adiantado 50 anos no seu projecto para Matosinhos.

Engº Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 9 - Dezembro de 2008