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A Equipa Redactorial

domingo, 31 de maio de 2009

Leça da Palmeira e o Rio Leça

Leça da Palmeira e o Rio Leça, nas Artes, nas Letras e nas Ciências, é o titulo de uma obra composta por quatro volumes e cujo primeiro teve, só agora, o seu lançamento após várias peripécias. São seus autores Albano Chaves e António Mendes, aquele há muito ligado ao mundo das letras e este ao da pintura.
Para nos referirmos a esta obra nada melhor do que transcrever as palavras do prof. A. Cunha e Silva na respectiva apresentação, e que foram as seguintes:
“Não passou ainda muito tempo que retratei a musa de Leça. Musa que tem na cabeça um esplendor!... No tronco um coração de mel!... A seus pés, passeiam todos os trilhos, alvoreceres e poentes.
Quando parecia que esta ditosa Senhora musa já estava saturada da sua existência, séculos de semeadura de tradição oral e escrita, séculos de inspiração de aguadas sobre papel ou óleo sobre tela; quando o crepúsculo da sua vida apontava para uns olhos cansados de focar a objectiva do antigo caixote fotográfico “Kodak”; ou ainda quando uns dedos trémulos e esguios de tanto exercício ao piano, nos antigos Erard, já se atrapalham entre as teclas brancas e pretas e trocam os sustenidos pelos bemóis, eis que a madame aparece toda espampanante no arquivo emocional leceiro – O Indiciário Onomástico – em bom estado de conservação, disponível para dançar a polka ou dar as cartas do bridge com as amigas, na velha “sala de visitas” de Leça da Palmeira.
Esta ressurreição deve-se ao dom de dois patriarcas do nosso tempo – o pintor António Mendes e o escritor Albano Chaves – que desceram à rua, despiram as casulas e, antes de bater a porta ao rés da rua, colocaram o báculo de pernas p’ró ar, por causa das bruxas. De telemóvel na mão e sapatilhas Reebok calçadas, andaram por aí, pelas travessas e vielas, bateram aos portões, às vidraças das casas de Leça e, onde não havia gente para dar nada, apanhavam uns restitos, uns estilhaços, os destroços que a musa deixou algures esquecidos e ao deus dará! Remexeram papéis bafientos, abriram gavetas e gavetões, consultaram a Internet e mandaram e-mails.
Resultado deste labor: com tanto restolho a musa acordou estremunhada:
- Que andarão a fazer estes dois? E ficou a saber que:
Um, o António Mendes, de pena dourada, a fazer retratos leceiros; o outro, a “retratá-los”. Da cabeça da musa com esplendor, retiraram os poetas, os pecadores; dos pés da musa os pintores, pescadores (de imagens) que, habituados às águas, meteram os seus pés e os pés dos cavaletes nos riachos, nos rios, nas águas salgadas e doces, nas areias molhadas.
Por tudo isto, o livro Leça da Palmeira e o Rio Leça nas Artes, nas Letras e nas Ciências tem cabeça, tronco e membros. É um livro que caminha, que sente emoções, que racionalmente pensa. O escritor vestiu-lhes a roupagem, o pintor deu-lhes um rosto, um olhar, é nos olhos que está o espelho da alma. Estes são os retratos dos retratados.
António Mendes e Albano Chaves acabam de doar aos leceiros as suas terras, as suas águas, as suas praias, as suas ruas, as suas vielas, as suas gentes, as suas memórias, e a musa encoberta pelas águas mil do mês de Abril andará por aí a inspirar leceiros e visitantes, não só os que andam na rua, mas também aqueles criadores infinitistas que flutuam na lua”.
Palavras estas de uma beleza tão sublime a corresponder ao teor do livro.
Ficamos ansiosos à espera dos restantes volumes.

Eng.º Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 3 - Maio de 2009